sábado, 14 de janeiro de 2012

A DIETA ESPIRITUAL DO BRASILEIRO




O ato de comer é um dos melhores recursos pedagógicos; pois comemos várias vezes ao dia, todos os dias.
Observando o que e como nos alimentamos torna-se possível deduzir sobre várias coisas; até a respeito de nossa evolução pessoal e social. Correlacionando nossa cultura religiosa com o cardápio, é possível fazer algumas observações.

Nossa dieta básica: uma saladinha; arroz e feijão; mistura; ás vezes uma sobremesa e nos intervalos guloseimas.

A salada representa nossas crenças.
O povo brasileiro é o rei do sincretismo, assimilamos qualquer tipo de crenças e misturamos rituais com incrível facilidade. Exemplo, boa parte das pessoas, mesmo sendo de outra religião, apela para a umbanda quando precisa resolver alguma coisa mais urgente na parte material ou de obsessão. Temos católicos praticantes e não praticantes. Espíritas atuantes e outros simpatizantes. Esotéricos que estudam e praticam; outros que nem são tão esotéricos apenas adoram colecionar imagens de gnomos, duendes, fadas, pedras. Praticantes e simpatizantes da seicho-no-ie. Muita gente vai á Igreja Messiânica apenas para tomar o johrei. Evangélicos praticantes e outros não. Praticantes do Budismo e simpatizantes, etc.
Se as pesquisas fossem mais específicas certamente nós teríamos mais simpatizantes em qualquer religião do que praticantes – essa atitude de praticante ou não, reflete uma postura política e social: adoramos privilégios e não muito chegados em direitos; o motivo é simples: direitos têm que ser exercidos.

Até que ponto esse sincretismo é saudável ou não; merece mais pesquisas. Um dos reflexos negativos na parte política pode ser a falta de identidade e de ideologia dos partidos políticos que se tornam um aglomerado de interesses de pessoas e de grupos. Um lado positivo é que não temos muitos problemas de preconceito religioso; católicos se casam com praticantes do judaísmo; evangélicos com budistas; e todas as combinações possíveis. As pessoas mudam de religião como mudam de partido político; o que nos torna uma sociedade bem plástica e maleável, mesmo que com problemas de identidade.

O arroz com feijão que nos enche a barriga combatendo a fome e suprindo as necessidades mais básicas representa nossa realidade no trato com o Divino: tudo vai para as costas de Deus. Nas experiências representa o contato com a realidade.


A denominada “mistura” representa nossas expectativas e esperanças. Cada grupo social tem possibilidades de suprir seus sonhos e expectativas de forma diferenciada através da comida. Passar fome real até alguns anos era algo seletivo e que exigia esforço; as pessoas tinham fome de guloseimas – era mais uma fome de expectativas e de sonhos de consumo do que fome real.

Os temperos bastante diversificados representam nosso jeitinho brasileiro de ser e de viver.

O uso de digestivos após as refeições espelham nossa cultura do quebra galho, da gariba. Somos mais adeptos das coisas provisórias do que das definitivas; alguns governantes conseguem terminar um mandato usando apenas medidas provisórias.

Guloseimas entre as refeições são as ilusões. O consumo de guloseimas tem trazido consigo especialmente entre as crianças e os jovens muitas doenças e problemas.

Nossa hospitalidade é marcante: “onde come um comem dez”; representa a tendência entre os mais pobres de compartilhar: “basta por mais água no feijão”. Nossa sociedade é única, pois entre os mais carentes e necessitados a compaixão e o compartilhar é mais habitual do que entre os mais abastados.

Adorar uma boca livre representa nosso estilo Macunaíma de viver.

O sincretismo está no DNA cultural; até na comida nós somos adeptos da gororoba e do grude – mistura-se tudo no prato, salada, arroz, feijão, mistura, e se bobear até a sobremesa.

Se reformularmos os hábitos de dieta nós iremos modificar alguma coisa de nosso comportamento social, na postura política, e até nas práticas religiosas?
Assunto interessante que começamos a alinhavar no livro “Quem ama cuida”.

Bom apetite.

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