sexta-feira, 30 de julho de 2010

EDUCAR OU CRIMINALIZAR?

Ficam proibidos os castigos físicos na educação dos filhos sob pena de processo!

Aguardam regulamentação: a violência subliminar e o bullying entre quatro paredes (mais comum do que se imagina).
Nossa sina, dentre elas a jurídica) parece ser a cultura da gariba; raramente começamos alguma coisa de forma correta; vivemos sempre tentando consertar o estrago das coisas mal feitas; e quase sempre nos damos mal.
Para nos adequar á legislação dos países mais “adiantados”, apenas “para inglês ver”; pois, aqui muitas de nossas modernas e boas leis não são aplicadas; quando o são, nem sempre de forma igualitária.

Assinamos o atestado de óbito das relações familiares que estavam na UTI; e o epitáfio da falecida, que já estava morta há muito tempo, é cômico: “Aqui jaz o fantasma da dona educação.
Tornar crime passível de pena a má formação das crianças, é uma bomba relógio social; prestes a explodir; pois, haja cadeia para colocar todo mundo. Se para protegê-las da violência da própria família é preciso ameaçar com processo – Deus nos acuda para o que nos aguarda em futuro bem próximo; e, não apenas entre quatro paredes; mas, principalmente na rua – pois, o conceito de família deságua no social – hoje, não podemos nos preocupar apenas com a educação dos nossos filhos; temos que nos preocupar também com a qualidade humana dos filhos dos outros; pois, eles se encontram nas esquinas da vida; e interagem.

Para começo de conversa, bater ou castigar fisicamente para educar é falta de qualidade humana e atitude não desculpável quando levada ao pé da letra.
Nada contra a legislação que criminaliza os castigos corporais; ela pode até ser útil em alguns casos; mas, para que ela funcione de forma mais eficiente que as leis em uso; é preciso rever um monte de coisas; isso, é inegável.
Nossos juristas tendem a repetir os médicos: anestesiar e abrandar os efeitos das doenças; sem tentar mexer nas causas.
Exemplo - Quem discorda que miséria; desemprego; drogas; consumo de álcool; estresse; e falta de educação baseada em valores éticos são fatores de risco para a prática da violência contra crianças e adolescentes? – Evidente que não se dá qualidade pessoal, cultural, ética e moral num decreto; mas, valorizar a ética na educação e reformular o sistema, é um começo; e urgente – Além disso, a lei seria mais eficiente se viesse acompanhada da criminalização do consumo de álcool; como já é feito com as drogas – Foi pego dando uma chinelada ou um beliscão no filho? – Tem que passar pelo bafômetro! – Se alcoolizado; perde a guarda da criança! – É cômico? – Não é trágico!

O descaso com que a educação foi tratada ao longo da nossa história gerou a maioria de nossos problemas pessoais, familiares e sociais. Criamos gerações e gerações de pessoas com falta de maturidade psicológica; destituídas de bom senso; e que atuam como crianças na forma de pensar, sentir e agir, cuidando de crianças em idade cronológica; tinha que dar no que deu.
Além dessa desarmonia psicológica; o sistema educativo voltado apenas para a socialização superficial e a competição profissional; também contribui para que os conflitos se acentuem; tanto na relação do indivíduo com ele mesmo quanto nas relações interpessoais em todos os patamares.

Inevitável que esse mecanismo também gere pobreza afetiva:
Desde a concepção a criança se relaciona com o mundo através do polo afetivo. Ela precisa sentir-se protegida, amada e segura. Quando o ambiente é desfavorável pode sentir-se abandonada ou rejeitada e passar a reagir de forma agressiva e até violenta; dependendo da sua tendência; já que as reações individuais a uma mesma situação são sempre diferenciadas.
Filhos não desejados, rejeitados e abandonados tendem a manifestar agressividade com mais intensidade em virtude da influência do meio em que foram criados e educados.
Num mundo de consumo e competição; a cada dia torna-se mais comum a criança órfã de pais vivos; que além disso, tentam discipliná-la na base das palmadas.

Na cultura da pressa e do tudo para ontem; a arte de ouvir é pouco cultivada:
Com o egocentrismo em alta, o diálogo é cada vez mais pobre e interesseiro. Quando se conversa em família é para cobrar, pedir, exigir ou recriminar. Raros se dão ao trabalho de ouvir sem interromper. Todos querem fazer valer seus pontos de vista e interesses ou “direitos”; ignorando o que seja discussão ou diálogo.
“Depois da novela a gente conversa”! “Deixa acabar o jogo que eu te explico”! “O filme está quase no fim”! – Além da nossa falta de qualidade pessoal; na vida modernosa, o aparelho de TV tornou-se inimigo de peso na qualidade das relações familiares; daí, a falta de diálogo no lar faz com a relação entre pais e filhos necessite de tradutores ou intermediários: médicos, psicopedagogos, psicólogos, psiquiatras, drogas, chás...; - e daqui em diante: policiais, juizes, advogados, conselho tutelar. - Isso, sem falar na violência subliminar; talvez a mais comum e danosa; pois, dura quase a vida inteira; e os estragos costumam ser irreversíveis ao longo da existência.

É inevitável que as relações familiares deixem a desejar; pois, mesmo entre os mais escolarizados; boa parte das famílias são constituídas sem planejamento; e, não condizem com a época em que vivemos: na era dos detalhes que fazem toda a diferença. Antes, gerar dez filhos e conseguir o feito de que cinco tenham sobrevivido, e desses, dois ou três se “formaram” era uma vitória, hoje não mais.
A violência contra crianças e adolescentes sempre foi maior entre a parcela da população mais desprovida de recursos e de escolaridade – o país melhora quanto á diminuição da pobreza e da escolaridade; embora não no ritmo esperado e desejado; pois, alguns apenas aprenderam a contar as palmadas prometidas – Daí, esperava-se uma melhora na qualidade da vida em família; porém ela continua ao “Deus dará”, com os defeitos de caráter de uns burilando os dos outros. Justificamo-nos com a falta de tempo tanto para influências positivas como atenção, cuidados, carinho físico, quanto para nos desculparmos pela ausência. A desculpa mais comum é, o correr atrás não se sabe do que, como o motivo que nos impede de dispensar tempo e atenção para suprir as necessidades infantis.

Quando não se faz uma revisão da história para identificar os erros, íntimos e sociais e começar a corrigi-los dentre de um contexto mais inteligente e ético; nem a eternidade dá conta de resolver os problemas; perpetuam-se os desatinos.
Neste caso; nas situações indesejáveis, nem sempre a culpa pode ser colocada totalmente nos ombros dos pais. Há crianças que desde o nascer demonstram ser potencialmente difíceis de lidar e agressivas. Trazemos um conjunto de tendências, impulsos, predisposições e um projeto de personalidade que, pode e deve ser modificado na infância com relativa facilidade sob a ação do meio ou da educação.
Podemos rotular os impulsos, predisposições e tendências inatas em potencialmente boas ou más. Bom, é aquilo que traz junto sensação de harmonia, paz e alegria ou prazer. Ruim, é tudo o que carrega consigo ou como efeito a violência, a dor, a tristeza ou sofrimento moral.
Algumas crianças são naturalmente pacíficas e outras agressivas ou violentas sem que os pais sejam culpados ou relapsos. É uma condição íntima delas que nada tem a ver com eles; que despreparados apenas entram em sintonia e reagem.
É preciso que fique claro: o indivíduo não é totalmente produto do meio.
Mesmo as crianças desejadas e educadas em famílias onde a violência não seja comum, podem manifestar essas tendências e impulsos; outras nascidas e criadas em ambientes desfavoráveis e violentos, podem ser naturalmente mansas e pacíficas; algumas, conseguem sobrepujar esse desafio e, mantém esse padrão até o fim da existência; tudo a ver, com a evolução pessoal da alma.
Ao ser inserida na sociedade, a criança dependendo do conjunto de suas tendências e da qualidade da educação que recebeu, pode adaptar-se calma e facilmente ao ambiente ou exteriorizar impulsos de animosidade que, a posteriori podem ser resolvidos ou reprimidos.

Violência é acima de tudo uma doença grave da ética e da moral – não podemos considerar que sejamos uma sociedade saudável; pois, entre nós a moral e a honra andam em baixa na bolsa de valores humanos.
Até o senso moral tem componentes inatos e adquiridos pela influência do meio. Seu conteúdo, é uma das mais importantes ferramentas para que os impulsos e tendências agressivas sejam transformadas em mansuetude e pacifismo durante o processo de socialização; que hoje é feito basicamente na escola.

O que podemos esperar?

Conforme colocamos em alguns escritos anteriores, as experiências estão aceleradas; os fatos são noticiados com velocidade crescente; no contexto atual, é “normal” que eles sejam de baixa qualidade, pois espelham o coletivo. Mas, geram uma imagem da realidade distorcida: a impressão que se tem, é que, a vida está cada vez mais agressiva e violenta; até certo ponto é um engano; a turbulência causada pela situação retirou-nos a capacidade de conter, esconder e reprimir tendências e impulsos; é como se de repente, tudo que estivesse oculto viesse à tona; tudo o que aí está já existia antes – a agressividade e a violência manifesta sempre fez parte de nós e do nosso meio; negá-la ou ignorá-la é um desatino.
Talvez a lei venha em boa hora; pois, se as crianças de hoje são mais difíceis de controlar: Elas estarão mais sujeitas a apanhar dos adultos que as de ontem? – Se, elas não tem o medo das outras gerações; e enfrentam os adultos de igual para igual; com a desvantagem do tamanho e da força; serão castigadas com mais facilidade e brutalidade? - Se mentirmos para elas; nos desmascaram; e apanham pela audácia de chamar os mentirosos de mentirosos? – Se elas ousarem afrontar os alicerces da educação tradicional: medo, mentira, suborno e chantagem; correm risco de vida?

Novamente nada contra a lei; mas, que ela é chocante, isso é – esfrega na nossa cara que somos, apenas, quase humanos ainda.
E se os pais agressores resolverem processar o estado e sua família por terem sido crianças e jovens mal educados? – No fundo, pais agressores são doentes a necessitar de tratamento e de reabilitação, através da educação; ou melhor, da reeducação do adulto; obrigação da sociedade como um todo; até, não é difícil que tenham sido agredidos quando na infância.

Sem dúvida vamos tentar aproveitar o gancho oferecido pela discussão do projeto de lei; sabendo que é chama que logo se apaga; pois, para a maioria educação é um assunto muito chato; daí nada interessante.
Minha amiga, a advogada ambientalista Ana Evechenguá interessa-se pelo assunto – vamos trocar figurinhas nos escritos.

Estão pintando o quando do futuro desastre na interatividade social em virtude da forma como estão sendo educadas boa parte das crianças e jovens; com cores muito fortes.

ECA!

Mas, como o seguro morreu de velho como costumam dizer; na dúvida; vai aí algumas dicas do seu Jõao da padaria; meu amigo de muitos anos e psicólogo de trás de balcão:

Para quem tem filhos ou netos pequenos: usem caneleiras e outras proteções.
Para quem os tem mais velhos: escondam talões de cheques. Mudem com regularidade as senhas bancárias e outras. Façam seguro dos carros. Tranquem as portas dos quartos. Durmam de capacete. Fiquem atentos para odores e gostos estranhos...