Semana Santa.
Bom momento para se
avaliar as convenções e tradições com suas deliciosas comilanças...
O ato de comer é um dos
melhores recursos pedagógicos á disposição dos candidatos a seres humanos: nós.
Observando o que e como
nos alimentamos; torna-se possível deduzir sobre várias coisas até a respeito
de nossa evolução pessoal e social.
Correlacionando a
cultura religiosa do brasileiro com o cardápio, é possível fazer interessantes
observações.
Nossa dieta básica: uma
saladinha; arroz e feijão; mistura; ás vezes uma sobremesa e nos intervalos
guloseimas.
A salada bem representa
nossas crenças:
O povo brasileiro é o
rei do sincretismo, assimilamos qualquer tipo de crenças e misturamos rituais
com incrível facilidade. Boa parte das pessoas mesmo sendo de outra religião
apela para a Umbanda, por exemplo, quando precisa resolver alguma coisa mais
urgente na parte material ou de obsessão. Temos católicos praticantes e não
praticantes.
Espíritas atuantes e outros simpatizantes.
Esotéricos que estudam e praticam; outros que nem são tão
esotéricos, apenas adoram colecionar imagens de gnomos, duendes, fadas, pedras.
Praticantes e simpatizantes da Seicho-No-Ei.
Muita gente vai á Igreja Messiânica apenas para tomar o Jorhei.
Evangélicos praticantes e outros não.
Praticantes do Budismo e simpatizantes, etc.
Se as pesquisas fossem mais claras certamente
no País teríamos mais simpatizantes em qualquer religião do que praticantes.
Essa atitude de
praticante ou não; reflete uma postura política e social:
Nós somos vidrados em privilégios e não muito
chegados em direitos; o motivo é simples: direitos têm que ser exercidos; e
isso, dá um trabalho danado.
Até que ponto esse
sincretismo é saudável ou não; merece mais pesquisas.
Um dos reflexos
negativos na parte política pode ser a falta de identidade e de ideologia dos
partidos políticos; que se tornam um aglomerado de interesses de pessoas e de
grupos.
Um lado positivo é que
não temos muitos problemas de preconceito religioso. Católicos se casam com
praticantes do judaísmo; evangélicos com budistas; e todas as combinações
possíveis.
As pessoas mudam de
religião como mudam de partido político; o que nos torna uma sociedade bem
plástica e maleável, mesmo que com pouca identidade...
O arroz com feijão que nos enche a barriga combatendo a
fome e suprindo as necessidades mais básicas; representa nossa realidade; e
tomamos contato com ela bem cedo, ás vezes até antes do desmame. Como país
pobre em educação e cultura nós nos alimentamos obrigatoriamente mais de
realidade e de alguns sonhos; do que de expectativas concretas e realizadoras.
A mistura representa nossas expectativas e esperanças.
Aqui em se plantando
tudo dá:
Cada grupo social tem
possibilidades de suprir seus sonhos e expectativas de forma diferenciada
através da comida: uns comem picanha outros boi de cerca (xuxu).
Passar fome real até alguns anos era algo seletivo e que exigia
certo esforço; as pessoas tinham fome de “Danone”, de bolachas, de picanha, de
guloseimas – era mais uma fome de
expectativas e de sonhos de consumo do que fome real; no presente em algumas
regiões nem tanto – mas sempre tem o bolsa família e outras formas de matar a
fome de desejos...
Os temperos diversificados representam nosso jeitinho
brasileiro de ser e de viver; muitos reclamam, mas depois de um tempo voltam ás
origens.
O uso de digestivos após as refeições espelham nossa cultura
do quebra galho, da gariba:
Somos mais adeptos das coisas provisórias do que das definitivas;
alguns governantes conseguem terminar um mandato usando apenas medidas
provisórias.
Guloseimas
são as ilusões.
O consumo de guloseimas
tem trazido consigo especialmente entre as crianças e os jovens muitas doenças
e problemas como o “manismo”.
Bolsa
família e correlatas:
A hospitalidade
brasileira é cantada em prosa e verso: “onde come um comem dez”; representa a
tendência entre os mais pobres de compartilhar: “basta por mais água no
feijão”. Nossa sociedade é única, pois entre os mais carentes e necessitados a
compaixão e o compartilhar é mais habitual do que entre a classe média e os
ricos; de preferência com a $ dos outros...
Adorar
uma boca livre representa nosso estilo Macunaíma de viver.
Nossa
memória é curta e não convencional:
Somos adeptos da
gororoba e do grude – mistura-se tudo no prato, salada, arroz, feijão, mistura,
e se bobear até a sobremesa.
Parece que Deus cansou
de ser brasileiro e está querendo trocar os manos pelos hermanos...
Brincadeira á parte:
Será que se um dia
reformularmos os hábitos de dieta:
Nós iremos modificar alguma coisa de nosso comportamento social,
na postura política, e até nas práticas religiosas?