sábado, 30 de março de 2013

A PÁSCOA E A DIETA ESPIRITUAL DO BRASILEIRO





    Semana Santa.

    Bom momento para se avaliar as convenções e tradições com suas deliciosas comilanças...

    O ato de comer é um dos melhores recursos pedagógicos á disposição dos candidatos a seres humanos: nós.

    Observando o que e como nos alimentamos; torna-se possível deduzir sobre várias coisas até a respeito de nossa evolução pessoal e social.    
    Correlacionando a cultura religiosa do brasileiro com o cardápio, é possível fazer interessantes observações.
    Nossa dieta básica: uma saladinha; arroz e feijão; mistura; ás vezes uma sobremesa e nos intervalos guloseimas.

     A salada bem representa nossas crenças:
     O povo brasileiro é o rei do sincretismo, assimilamos qualquer tipo de crenças e misturamos rituais com incrível facilidade. Boa parte das pessoas mesmo sendo de outra religião apela para a Umbanda, por exemplo, quando precisa resolver alguma coisa mais urgente na parte material ou de obsessão. Temos católicos praticantes e não praticantes.
Espíritas atuantes e outros simpatizantes.
Esotéricos que estudam e praticam; outros que nem são tão esotéricos, apenas adoram colecionar imagens de gnomos, duendes, fadas, pedras.
Praticantes e simpatizantes da Seicho-No-Ei.
Muita gente vai á Igreja Messiânica apenas para tomar o Jorhei.
Evangélicos praticantes e outros não.
Praticantes do Budismo e simpatizantes, etc.

     Se as pesquisas fossem mais claras certamente no País teríamos mais simpatizantes em qualquer religião do que praticantes.

     Essa atitude de praticante ou não; reflete uma postura política e social:

     Nós somos vidrados em privilégios e não muito chegados em direitos; o motivo é simples: direitos têm que ser exercidos; e isso, dá um trabalho danado.

    Até que ponto esse sincretismo é saudável ou não; merece mais pesquisas.

     Um dos reflexos negativos na parte política pode ser a falta de identidade e de ideologia dos partidos políticos; que se tornam um aglomerado de interesses de pessoas e de grupos.

     Um lado positivo é que não temos muitos problemas de preconceito religioso. Católicos se casam com praticantes do judaísmo; evangélicos com budistas; e todas as combinações possíveis.

     As pessoas mudam de religião como mudam de partido político; o que nos torna uma sociedade bem plástica e maleável, mesmo que com pouca identidade...

    O arroz com feijão que nos enche a barriga combatendo a fome e suprindo as necessidades mais básicas; representa nossa realidade; e tomamos contato com ela bem cedo, ás vezes até antes do desmame. Como país pobre em educação e cultura nós nos alimentamos obrigatoriamente mais de realidade e de alguns sonhos; do que de expectativas concretas e realizadoras.

    A mistura representa nossas expectativas e esperanças.

    Aqui em se plantando tudo dá:
    Cada grupo social tem possibilidades de suprir seus sonhos e expectativas de forma diferenciada através da comida: uns comem picanha outros boi de cerca (xuxu).
Passar fome real até alguns anos era algo seletivo e que exigia certo esforço; as pessoas tinham fome de “Danone”, de bolachas, de picanha, de guloseimas –  era mais uma fome de expectativas e de sonhos de consumo do que fome real; no presente em algumas regiões nem tanto – mas sempre tem o bolsa família e outras formas de matar a fome de desejos...

    Os temperos diversificados representam nosso jeitinho brasileiro de ser e de viver; muitos reclamam, mas depois de um tempo voltam ás origens.

    O uso de digestivos após as refeições espelham nossa cultura do quebra galho, da gariba:
Somos mais adeptos das coisas provisórias do que das definitivas; alguns governantes conseguem terminar um mandato usando apenas medidas provisórias.

    Guloseimas são as ilusões.
    O consumo de guloseimas tem trazido consigo especialmente entre as crianças e os jovens muitas doenças e problemas como o “manismo”.

    Bolsa família e correlatas:
    A hospitalidade brasileira é cantada em prosa e verso: “onde come um comem dez”; representa a tendência entre os mais pobres de compartilhar: “basta por mais água no feijão”. Nossa sociedade é única, pois entre os mais carentes e necessitados a compaixão e o compartilhar é mais habitual do que entre a classe média e os ricos; de preferência com a $ dos outros...

    Adorar uma boca livre representa nosso estilo Macunaíma de viver.

    Nossa memória é curta e não convencional:
    Somos adeptos da gororoba e do grude – mistura-se tudo no prato, salada, arroz, feijão, mistura, e se bobear até a sobremesa.

    Parece que Deus cansou de ser brasileiro e está querendo trocar os manos pelos hermanos...

    Brincadeira á parte:

    Será que se um dia reformularmos os hábitos de dieta:
Nós iremos modificar alguma coisa de nosso comportamento social, na postura política, e até nas práticas religiosas?